4.18.2007

Pintura (2007)

Óleo sobre tela/ Oil on canvas, 155 x 136 cm
Coleção particular


 Superfícies Dinâmicas
Série de pinturas de Gerson Reichert


Das muitas possibilidades na pintura, ao autor interessa o sentimento, a sensação, tornados matéria. Nos trabalhos recentes de Gerson Reichert, não interessa a ilusão de volume ou perspectiva. Se nos seus desenhos anteriores a essa série de pinturas, esse fascínio, pode ser constatado pela sua palheta rica, a pintura aqui não é representativa, é ela mesma, existe. A pintura de Gerson é predominantemente
não-figurativa, onde os elementos são ordenados ora de forma intuitiva, ora determinados pelo própriodesenrolar dos “acontecimentos” pictóricos. A ele tampouco possui ela um “centro de atenção”: é uma pintura plana, a superfície é dinamizada por signos pintados, cinéticos, em várias direções, coloridos,
golpes de pincel, camadas, transparências, enfim, é o exercício pleno do ato físico de pintar. O gesto e a forma, a própria massa de tinta encerra o gesto, matéria, forma e luz, isoladamente e em conjunto, dimensionam a superfície e lhe conferem unidade. A ordem dos elementos é constantemente alterada, elegantemente subvertida, preservando o frescor, os sucos da pintura, até o momento de decidir parar de pintar. É a pintura descrevendo-se a si mesma.


Na pintura não existe uma interface. Pintura, como o desenho, por exemplo, é um meio de expressão plástica direto, tem a ver com cozinha, com química, com mais ou menos energia física, com sucos e sensualidade. A tinta em si só encerra possibilidades. Por ela mesma, já se bastaria. Suporte, fixação no suporte. Pintar com o corpo todo, os sentidos a pleno. Com prazer. Existe aqui uma profunda intimidade. Conhecimento dos materiais, procedimentos intransferíveis. Quer dizer, o autor é inteiramente responsável pelo que produz. Se o resultado não é bom, não tem a quem culpar, por isso, o pintor se expõe.

Talvez seja a pintura uma forma de ritual, como são as refeições, os ritos sociais, ou?...Gritos silenciosos. Para o autor, a pintura seria impossível sem o envolvimento físico com o material. Ismos a parte, Gerson é colorista. ORGANISMO! Uma forma de manter a unidade, a sintonia do físico como espiritual: os sentimentos que levam a pintar, talvez. Essa organicidade tem a ver com o material, tintas, pigmentos, que o autor manipula, trabalha e depura. O resultado é uma pintura onde não há ilusão,
é uma pintura plana, que grita silenciosamente. Exercício de visualidade: são as próprias formas e pinceladas que descrevem e determinam a ordem do quadro. É a ordem em si mesma. A profundidade é mais do espírito com o qual o autor pinta do que do ato, superfície.


Elegância e refinamento, são áreas de cor, muito bem feitas. As pinturas de Gerson são suculentas. No mundo do pintor, o ofício. O mundo do pintor é o seu ofício. As pinturas resultantes são o registro, nesse caso, colorido dessa ação. Existe esse lado do prazer e também o da tensão, impossível aqui queimar etapas. Mais uma vez, não se pode culpar a interface porque não existe uma. Mais do que o assunto da pintura, a Gerson interessa o “como” pintar, as tintas, nesse caso o óleo, o
pincel, descrevem sua própria história...


2006 Renato Heuser 

Artista e professor Instituto de Artes/UFRGS


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4.17.2007

Pintura - Porto Alegre (2006)

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Óleo sobre tela/Oil on canvas, 150 x 120 cm 
Coleção particular