11.21.2007

Palavra Figurada - ESPM/ RS (2007)

.



 
PALAVRA FIGURADA

Qualquer texto escrito - este texto mesmo, este que você começa a ler agora - é texto e, ao mesmo tempo, é imagem. A mancha que ele demarca sobre o papel, cada linha, cada palavra e cada letra conformam alguma coisa que é escrita e que é figura. Fosse a gente procurar formas no que está escrito como quem adivinha bichos nas nuvens, haveria de encontrar um ovo em cada O, uma serpente em cada S. É uma obviedade que se faz ainda mais evidente quando nós, no ocidente, nos deparamos com a caligrafia chinesa.

Escrever é desenhar. Já virou lugar comum sorrir, desde o teclado, com dois pontos e um D maiúsculo. Mas não é só isso que ata palavra/imagem. Acresce que as palavras fazem sentido, diferentes sentidos numa mesma palavra.E, mesmo quando os sentidos escapam, sobram as sugestões, as imagens e as metáforas. Ainda há mais: o que não pode ser dito mas pode ser mostrado, aquilo que se vê e não se consegue dizer - e que, no entanto, de alguma forma se diz. E o fato de que um e outro, texto e imagem, nunca se acomodam totalmente um no outro.

Dizia Michel Butor que um muro, erguido pelo conhecimento, separa palavra e imagem. O que ajuda a derrubar esse muro, segundo o poeta, são as obras - os trabalhos de arte - que inserem a palavra no campo da arte. São imagens/palavras dessa natureza que se agregam nessa Palavra Figurada. Marina Camargo toma o texto nas mãos e, no cubo branco da galeria, destaca o branco das entrelinhas. Gerson Reichert faz o texto de suporte, para, em seguida, escondê-lo e subordiná-lo, texto feito figura, estampado na revista. Elida Tessler recolhe palavras como quem preserva segredos, o que cada uma delas diz e também o que não diz, a palavra como indício - não de algo que se quer preservar - mas de algo que não se consegue esquecer. Glaucis de Morais reafirma o descompasso, a tensão permanente, entre o que se vê e o que se enuncia, entre o que se inventa e o que se re-inventa, novas estratégias para o real. Téti Waldraff toma o texto nas mãos, também ela, para, enfim, redistribuí-lo como um convite, um imperativo utópico, o desejo de fazer raiar um novo dia:Dê alegria!

Porque a palavra convida a figura, e a figura chama a palavra.


2007 Eduardo Veras

jornalista, doutorando em artes visuais pela Universidade 
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)